DESQUALIFICADO POR SER PASTOR.
”…A imprensa noticia que o Presidente nomeou um pastor presbiteriano para a Comissão de Ética. Só faltou dizer que o nomeado, entre outras qualificações, é Doutor pela USP, Mestre pela Mackenzie, instituição onde já foi Reitor. Esqueceu de dizer que é advogado e membro do conselho deliberativo da Santa Casa de Santos.
Rubens Teixeira, mais de uma vez nomeado para relevantes cargos públicos, foi anunciado unicamente como “pastor da Assembleia de Deus”. A mídia só não disse que ele é Doutor em Economia (UFF), Mestre em Engenharia Nuclear (IME) e bacharel em Engenharia Civil (IME), Direito (UFRJ) e Ciências Militares (AMAN). Esqueceu de anotar que, além de outras qualificações, é analista do BACEN e escritor best seller com livros já traduzidos para inglês, espanhol e leto.
Ora, é óbvio que ser pastor não desqualifica ninguém, mas causa estranheza que a imprensa seja tão obcecada com a religião a ponto de IGNORAR as qualificações relacionadas aos cargos.
Curioso que falam tanto em estado laico, sem nem saber direito o que isso é, mas são os primeiros a tacharem pessoas por seus credos e limitar qualquer notícia a esse predicado.
Ao meu sentir, temos uma imprensa que não está cumprindo o papel de informar nem está sendo leal e “laica”. Isso me parece preconceito religioso e serviço mal feito. A falta de informação suficiente induz nos leitores o entendimento de que as indicações do Dr. Ribeiro e do Dr Teixeira se basearam unicamente no fato de serem pastores evangélicos, sendo essa a única qualificação mencionada nas matérias. A indicação para uma função técnica e pública faz com que seja necessário pesquisar as aptidões acadêmicas e a experiência profissional para o exercício do cargo. Sem esses cuidados básicos, a imprensa desinforma, e isto é o oposto de sua missão.
Além disso, é violação dos direitos humanos discriminar alguém por sua fé.
Lamentável, portanto, que atividade tão preciosa quanto a liberdade de imprensa seja mal utilizada. Mais lamentável ainda é sabermos que o abuso das meias verdades, da manipulação, da afronta aos direitos humanos, e a deslealdade, vai minando a credibilidade da imprensa. E todos nós precisamos da imprensa, ao menos quando ela age como tal e não como veículo de informação parcial e enviesada.
Fica aqui o alerta para quem lê e confia nas notícias mancas, e o alerta para quem as produz: pode demorar, mas o povo terminará por não levar mais a sério aquilo que é escrito sem a devida seriedade.
Amo a liberdade de imprensa e reafirmo sua importância para uma democracia. Porém, é justo esperar que a própria imprensa zele por sua credibilidade, trazendo informação com lealdade.”
WILLIANS DOUGLAS, juiz federal no TRF-2 (RJ e ES), professor e escritor.